Temos motivos para celebrar Corpus Christi no momento de pandemia?

Temos motivos para celebrar Corpus Christi no momento de pandemia?

Em algumas cidades brasileiras, o feriado de Corpus Christi já foi antecipado em virtude da pandemia do novo coronavírus. Trata-se de uma comemoração que faz parte do calendário da Igreja Católica desde 1264, instituída pelo Papa Urbano IV. Aqui no Brasil é um feriado muito importante ao catolicismo, com uma longa procissão nas ruas, enfeitadas de diferentes formas e símbolos, e geralmente sempre cai em uma quinta feira, sessenta dias após a Páscoa. É uma das solenidades litúrgicas mais importante do catolicismo, pois dá publicidade ao sacramento da eucaristia e relembra a morte e a ressureição de Cristo.

O professor de Filosofia do Colégio Jandyra, Roberson Marcomini, que é Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Unicamp e doutorando em Sociologia pela UFSCar, explica que a etimologia Corpus Christi vem do Latim, e com a tradução da língua portuguesa significa “corpo de cristo”. Ele lembra que há um detalhe filosófico dentro da história que não podemos esquecer que foi o convite do Papa Urbano IV ao grande filósofo e teólogo Santo Tomás de Aquino para compor o ofício da festa de Corpus Christi. “Na Suma teológica ele afirmará que Cristo quis se fazer presente para nós porque é próprio da amizade o conviver com os seus amigos, ou seja, Jesus é, nas suas próprias palavras, nosso amigo. Só podemos conviver com quem nos dá vida e nos motiva.  Como nos falta em momentos de isolamento os ensinamentos do filósofo Epicuro um estado de tranquilidade, libertação do medo e controle sobre os nossos desejos”, explica o professor.

Marcomini reforça que, em 23 de junho de 2019, o Papa Francisco em sua homilia no dia de Corpus Christi lembrou que “a onipotência de Deus é humilde, feita apenas de amor e o amor faz grandes coisas com as coisas pequenas”. Isso significa que Ele nos ajuda a refletir que a Eucaristia é o pão compartilhado e o antídoto contra afirmações como “lamento, mas não me diz respeito, não tenho tempo, não posso, não é da minha conta, no mundo da economia, procura-se sempre aumentar os lucros, aumentar o volume de negócios, entre outras.

Para Roberson, as palavras do Papa naquela solenidade nos levam a pensar na importância de levar aqueles ensinamentos como filosofia de vida e levanta perguntas filosóficas. “Será que não é uma oportunidade para refletir se a vida do outro agora e pós pandemia não nos importa? Será que sabemos conviver com a diversidade de povos? De opiniões?  Será que utilizo o tempo da melhor forma? Como anda minha empatia? O que é importante dar ou ter? Partilhar ou acumular? ”, indaga o professor.

É importante também lembrarmos da importância da partilha. A palavra economia vem do grego “oikos” significa casa, lar, domicilio, meio ambiente. No evangelho economia está no sentindo de multiplicar partilhando, alimentar distribuindo e não satisfazer a voracidade de poucos, mas dá vida ao mundo. “Se faz presente em nosso coração a beleza filosófica de refletir a situação em que estamos vivendo com a oportunidade de reconhecer nossa pequenez como São Tomás ao criar o famoso oficio a convite de Urbano IV que fez de toda a sua vida um dobrar-se, um abaixar-se, uma kenosis em grego ou seja, um esvaziar-se, e em toda a sua vida buscou conformar a vontade de Deus com a sua vontade pessoal”.

Em virtude da pandemia, os templos religiosos seguem fechados. Mas, para Marcomini, a solenidade litúrgica desta quinta de Corpus Christi nos convida a saírmos de nós mesmos, da nossa comodidade, da nossa amargura e indiferença, para irmos em direção do nosso maior e mais verdadeiro amigo. “Jesus está no próximo pedindo a nossa ajuda nos hospitais com falta de ar, com a mãe que perdeu o filho, com esposa que perdeu o marido, e nas ruas pedindo um pedaço de pão, ou na comunidade mais carente pedindo trabalho, o verbo de Jesus não é ter, mas dar”, completa.

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