Professor Roberson explica como a filosofia pode ajudar a enfrentar a pandemia

Professor Roberson explica como a filosofia pode ajudar a enfrentar a pandemia

O momento único e histórico que o planeta está passando tem levado muitas pessoas a buscarem formas singulares de lidar com a situação. Alguns optam por terapias alternativas, outros por exercícios físicos para liberar endorfina e, outros, pelos ensinamentos filosóficos.

O professor de Filosofia do Colégio Jandyra, Roberson Marcomini, que é Mestre em Ciências Humanas e Sociais pela Unicamp e doutorando em Sociologia pela UFSCar, defende que os ensinamentos propostos por alguns filósofos podem contribuir para lidar com o momento atual com menos sofrimento.

Para ele, o momento de insegurança, medo e ansiedade traz à tona o alerta do pensamento Georg Wilhelm Friedrich Hegel. “A filosofia está conectada ao pensamento reflexivo. Por isso, precisamos ter cuidado ao emitir nossas opiniões de imediato. Desde o final de 2019 quando a pandemia já estava em outros países, me questionava sobre a filosofia, a morte e a vida. Essas reflexões e estudos acerca do que acontece me dão embasamento para não sair disseminando pânico e informações incertas”, afirma.

Para ajudar na reflexão deste momento, o professor destaca os ensinamentos de três grandes filósofos. O primeiro deles é Giorgio Agambem que, segundo ele, foi radical em opinar que o vírus é uma desculpa para implantar o que ele chama de “estado de exceção” muito conveniente quando os governos utilizavam e ainda utilizam a tecnologia para controlar sua permanecia em casa. “É exatamente o que está acontecendo no Brasil. Quando poderíamos imaginar que em 2020 as pessoas estariam presas em suas casas para proteger suas vidas”, indaga.

Marcomini acredita que a pandemia pode mudar o pensamento das pessoas e leva-las a acreditar novamente na ciência e na união do povo. Este é o ensinamento do filósofo e psicanalista Slavoj Zizek que escreveu a obra “Pandemia: covid-19 e a reinvenção do comunismo”. Em seu livro, Zizek argumentou que o vírus trouxe mais racismo e xenofobia e que um novo senso de comunidade está emergindo dessa crise. “Embora no Brasil e alguns outros países estamos vendo alguns movimentos na contramão do que diz a ciência como autoridades defendendo pastilha de detergente e remédios milagrosos, precisamos lembrar que a filosofia sempre esteve conectada com a ciência. Não se brinca com a fé das pessoas”, destaca.

Os meses de isolamento social e as incertezas do futuro estão fazendo com que muitas pessoas sofram de agitação e ansiedade e é justamente aí que vem o terceiro ensinamento importante, de Alain de Botton, filósofo e arquiteto, que defende que talvez seja o momento de reconhecer nossas fragilidades e não responder mais automaticamente que está tudo bem. “Para mim fica o alerta de que hoje em dia, ao enviarmos uma mensagem de watsapp ou e-mail, precisamos estar mais atentos e conectados em não fazer mais perguntas automáticas, podemos encontrar uma realidade muito diferente”.

Para o professor, além dos pensamentos filosóficos que ajudam a olhar por outros ângulos uma mesma situação, há outro elemento que deve ser levado em consideração que pode ajudar muito a lidar com as incertezas e ansiedade causadas pelo momento atual. “Precisamos de ousadia. A ousadia de sermos honestos com nós e com os outros a respeito do que estamos sentindo. Não é hora de conquistarmos admiração impressionando com a nossa força e nosso vigor. É hora de estabelecermos amizades verdadeiras e quando somos honestos deixamos a artificialidade e colocamos a beleza de sermos humanos. Quando sentimos medo, o melhor a se fazer é passar um tempo com ele para aceitarmos. Isso não significa que nos conformamos”, ressalta.

Entender que coisas ruins podem acontecer conosco faz parte do equilíbrio da vida e ajuda a alcançar a força interior. “Fugir pode não ser o melhor caminho, podemos ascender a meia luz da sala do medo e ver o que de fato existe ali dentro e ao ascendermos a luz por completo podemos recebe-lo de fato como ele é, nem grande e nem pequeno. É como vemos e ressignificamos”, finaliza.

“Não é hora de conquistarmos admiração conquistando com nossa força e vigor”

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